Ficha, crédito ou a cobrar? Cidades do interior de SP ainda possuem mais de 550 orelhões ativos
O g1 realizou um levantamento em municípios do centro-oeste paulista que ainda possuem os telefones públicos em funcionamento. Só em Bauru (SP) e Marília (S...

O g1 realizou um levantamento em municípios do centro-oeste paulista que ainda possuem os telefones públicos em funcionamento. Só em Bauru (SP) e Marília (SP), são mais de 400 em operação. Cidades do centro-oeste paulista ainda tem mais de 550 'orelhões' em funcionamento Projetados inicialmente nas cores laranja e azul e com o objetivo de proteger os telefones públicos pelas ruas de todo o Brasil, os icônicos 'orelhões' compõem o cenário urbano desde 1972. No entanto, com o avanço das tecnologias e, principalmente, dos celulares, o hábito de discar dentro das cabines se tornou cada vez mais raro. 📲 Participe do canal do g1 Bauru e Marília no WhatsApp Mesmo que uma mensagem ou áudio por WhatsApp resolva a grande maioria das comunicações feitas atualmente, houve uma época em que a única forma de ligar para alguém estando fora de casa era com fichas e, depois, cartões com créditos ou discar 9090 para ligar a cobrar. Considerando os mais de 29 mil telefones públicos que a Anatel relatou estarem ativos em todo o estado, o g1 fez um levantamento dos telefones públicos em funcionamento nas principais cidades do centro-oeste paulista, que chegam a 400 em Bauru (SP) e Marília (SP). Confira abaixo a história desse ícone da arquitetura e qual o futuro dos Telefones de Uso Público (TUP's) no interior de SP. Cidades do interior de SP possuem mais de 550 orelhões ativos Paulo Piassi/g1 | Mariana Bonora/g1 | Gustavo Luz/TV TEM 👂🏻 'Orelhinha' e 'orelhão' Em 1971, Chu Ming Silveira recebeu, enquanto chefiava o Departamento de Projetos da Companhia Telefônica Brasileira, uma missão de criar um protetor para telefones públicos que reunisse funcionalidade e beleza. A arquiteta, inspirada no formato do ovo, desenhou os projetos dos famosos 'orelhinha' e 'orelhão', que, à época do seu lançamento, foram denominados Chu I e Chu II em sua homenagem. Criadora do 'orelhão' na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design da Universidade de São Paulo, em 1970 Reprodução/Acervo de Chu Ming Silveira O primeiro modelo foi idealizado para locais fechados, como estabelecimentos comerciais e repartições pública, enquanto o segundo já foi pensado para áreas externas, com um material resistente ao sol e à chuva, ao frio e às altas temperaturas brasileiras. Segundo o site oficial da criadora e da criação, os primeiros Telefones de Uso Público (TUP's) foram inaugurados em 1972, inicialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. À época, foram criados apelidos para o design, como "tulipa", "capacete de astronauta" e, por fim, o definitivo "orelhão". A pedido da Prefeitura de São Paulo, Chu Ming chegou a projetar modelos para bancas de jornais e de flores. O modelo foi exportado pela primeira vez para Moçambique, mas Peru, Angola, Colômbia, Paraguai, Japão e até mesmo o país de origem da idealizadora, a China, também adotaram os famosos "orelhões", consagrando a invenção. À esquerda, o projeto oficial do 'orelhinha', e sua instalação no prédio da Companhia Telefônica em São Paulo à direita Reprodução/Acervo de Chu Ming Silveira Carlos Drummond de Andrade escreveu sobre a transformação que os TUP's causaram no ambiente urbano em sua crônica de nome "Amenidades da Rua": "A verdade é que a rua ficou sendo outra coisa, com as pessoas descobrindo que não precisam mais fazer fila no boteco ou na farmácia para dar um recado telefônico. Na própria calçada, uma vez comprada a ficha no jornaleiro, comunicam-se. Tão simples." 📞 Alô? Gabriel Leão, de Bauru, contou que se lembra com detalhes das ligações que fazia nos "orelhões" da cidade, principalmente quando criança. "Lembro da minha mãe me entregar as fichas quando ia para a escola, caso eu precisasse ligar para ela de lá", relembra. "Quando a gente ligava por fichas, dava para escutar o barulho dela caindo dentro do aparelho quando a ligação estava próxima do fim. Dava para saber que só tínhamos mais 30 segundos antes de cortar e, se quisesse continuar a conversa, era preciso colocar mais uma", lembra o jornalista, de 42 anos. Em 2003, segundo dados do site oficial dos "orelhões", o número de telefones públicos saltou de 547 mil, em julho de 1998, para 1,3 milhão em todo o Brasil. Segundo a Anatel, as instalações dos TUP's eram feitas em locais de interesse público, como escolas e hospitais, e, em regra, sob demanda. 'Orelhão' duplo localizado no Centrinho da USP de Bauru (SP) Mariana Bonora/g1 "No contexto do declínio da utilização do Serviço Telefônico Fixo Comutado, os Telefones de Uso Público tornaram-se mais relevantes naquelas localidades da área de concessão onde ainda não se encontravam disponíveis outras formas de serviços, constituindo-se, portanto, na única forma de acesso à população a serviço público de telecomunicação, e, por sua vez, ao acesso a serviços públicos de emergência, a exemplo das polícias Civis e Militares, Bombeiros, Samu, etc.", destaca a Telefônica/Vivo em nota enviada ao g1. Além disso, a Telefônica/Vivo informa que a sua distribuição segue as determinações legal (do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações - MCTIC) e regulatória (da Agência Nacional de Telecomunicações – Anatel). 'Orelhão' no Terminal Rodoviário de Bauru (SP) Paulo Piassi/g1 📱 Sobre o futuro Algumas alterações nos Planos Gerais de Metas para a Universalização do Serviço Telefônico Fixo Comutado Prestado no Regime Público - PGMU também facilitaram a diminuição do quantitativo de TUP's disponibilizados para uso em razão de alguns fatores, como: Fim da obrigação da concessionária em manter "orelhões" a cada 300 metros nas localidades atendidas com acesso individual; Extinção da obrigação de garantir a densidade de quatro "orelhões" para cada mil habitantes por município; Redução de 50% para 10% da quantidade de terminais instalados em locais acessíveis ao público 24 horas por dia. Atualmente, a Anatel relatou que mais de 29 mil telefones públicos estão ativos em todo o estado de SP. Nos municípios de Bauru e Marília, são mais de 400 em operação, segundo dados informados ao g1 pela Anatel. 'Orelhões' declarados pela Telefônica em 2025 No período de março de 2024 a março de 2025, segundo a Telefônica, os telefones de uso público do estado de São Paulo tiveram, em média, utilização de 0,6 crédito por mês, sendo que mais da metade não teve utilização alguma. O uso, nos últimos anos, caiu aproximadamente 50%. Neste contexto de baixa utilização, o g1 questionou a Anatel a respeito da retirada dos "orelhões", mas, de acordo com a agência, é de obrigação da Telefônica manter os TUP's instalados em toda a área de concessão até o dia 31 de dezembro de 2025. Após esse período, a remoção será de critério da empresa, exceto em localidades consideradas sem competição adequada, as quais deverão ser mantidas até o último dia de 2028. "Até essas datas, está vedada a remoção de qualquer terminal, devendo ser mantidos em pleno funcionamento pela Telefônica." 'Orelhão' duplo em Tupã (SP), localizado na Praça Anisio Carneiro, em frente ao fórum Gustavo Luz/TV TEM Para quem, por acaso, tiver a necessidade de usar um telefone público, é preciso treinar o olhar para encontrar os "orelhões". Os pontos de coloridos de verde, roxo e azul no cenário das cidades se tornaram esmaecidos e abandonados. Muitos deles, por vezes, sequer completam as ligações. Mas, para aqueles que precisarem ou quiserem viver a nostalgia, a Telefônica informa que há a comercialização de cartões para uso dos telefones públicos em diversos estabelecimentos, tais como bancas, supermercados, bares e restaurantes. *Colaborou sob supervisão de Mariana Bonora Veja mais notícias da região no g1 Bauru e Marília VÍDEOS: assista às reportagens da região